... que não existe.
Ontem fui a uma festa de aniversário de uma pessoa que mal conhecia, coisas que a gente faz pelo filho, chegando lá meu filho se divertiu horrores com a aniversariante, menina linda, com luz própria como se diz, o irmãozinho dela não falava, e aos 4 anos isso já era sinal de assombro para a maioria dos amigos, fui logo conversando com ela (Claro neh? Meu filho vai a FONO) e depois de muita conversa ela falou uma coisa que eu não tinha me tocado até hoje: “No Brasil, qualquer criança com dificuldade, seja ela psicomotora, de fala ou qualquer outra , é colocado um rótulo “DIFERENTE” e colocada num pacote, todas juntas” Aquilo caiu como uma luva pra o que eu sentia. Mais conversa vai e vem e ela falando como as pessoas mesmo as próximas perguntam se o garotinho (que a essa altura eu já havia conhecido) era deficiente mental por que simplesmente não falava... é cruel. Vi um menino muito inteligente, que prematuro precisou de acompanhamento e está se desenvolvendo muito bem, graças a atenção e carinho da mãe e da família.
Depois da conversa com essa mãe ficamos curtindo a festa ao que chega um menininho com paralisia cerebral. A mãe dele como vim a saber morou muito tempo lá fora, mas o teve aqui. Conversando com ela, pude perceber como este rótulo “diferente” “deficiente” pesa para estas mães e pais. O filho não ia a escola ainda, e mesmo crianças com deficiencia (seja ela qual for) devem ir a escola.
Conversando com ela perguntei se ela já havia ido a escola de meu filho e ela falou que como está a pouco tempo na Bahia não havia tido nem tempo ainda de pesquisar, mas como teve dificuldade em outras escolas, nem se animou muito. Mostrei para ela meu filho e a maneira como ele reagia ao filho dela (Nessa hora o animador já estava fazendo brincadeiras e os dois estavam lá brincando) Meu filho olhava para o garotinho como se fosse uma coisa normal, o tocava normalmente e se precisasse interagir com ele interagia normalmente. As outras crianças não judiaram do garotinho, mas o olhavam a todo momento, aquele ser “diferente”...
Conversando mais com ela percebi o quanto no Brasil é necessária mais que uma política, uma mudança na sociedade como um todo. Se a criança “ normal” tem qualquer dificuldade recebe o rótulo “diferente” e vc recebe o rótulo “incompetente”. Se seu filho tem alguma deficiência você recebe o rótulo “coitadinha” e seu filho recebe o rótulo “diferente”. A inclusão social não é citada na novela das 7, nem das 9 salvo casos pontuais. As famílias nessas novelas, são sempre bonitinhas e com seu finalzinho feliz, é isso que vendem, é isso que cada um espera que sua família se torne. Um comercial de margarina.
A vida não é só isso! A vida é um eterno aprendizado. Crianças com paralisia cerebral aprendem muito bem, quando estimuladas. Mas enquanto for colocada nestas e em outras crianças o rótulo de “diferente” eles sempre vão estar a margem da sociedade, nunca vão ter o lugar que merecem. Conversando com pessoas que moram, ou moraram lá fora pude perceber o quanto de inclusão verdadeira precisamos, lá existem pessoas com paralisia cerebral que são professores em universidades, cientistas e pesquisadores. Aqui no Brasil a perspectiva para estas crianças é terrível. Muitas escolas que se dizem inclusivas nem olham para estas crianças, aceitam no máximo crianças com síndrome de down. Isso não é inclusão. Inclusão é aceitar toda e qualquer criança com deficiência, seja ela motora ou psicomotora, ou psicológica.
Na escola do meu filho sei de 1 caso de paralisia cerebral e 2 casos de crianças autistas. E o mais importante nesses casos de inclusão não são as crianças com deficiência, sério! São as crianças “normais” Elas são as que mais se beneficiam nestes casos. Mas o que o seu filho vai aprender com aquele menino que mal se meche e baba? Vai aprender que o diferente faz parte da vida, que ela também tem suas difucldades e assim como aquele menino vai conseguir superar algumas e outras não, mas que tudo bem! E tudo bem ela ser diferente, por que aquele garotinho também é, e eu conheço ele, conheço o cheiro dele, quando chega na escola depois do beijo da mãe, conheço a maneira como ele me olha, conheço o jeito que ele tem de dizer o que quer, conheço ojeito que ele sorri quando gosta de uma coisa... A diferença se torna semelhança. Ele gosta de azul do mesmo jeito que eu, ele gosta da minha presença, ele estuda na mesma escola que eu, ele aprendeu a ler e eu também...
É necessária uma mudança drástica na nossa sociedade. Encarar o problema de frente, deficiências existem, difculdades também, colocar rótulos nestas crianças e nestas mães é cruel e assumir que eles sempre vão ser isso, diferentes. Mas a diferença faz parte da vida, se se vc olhar bem de perto vai ver que diferentes são os outros porque afinal difculdades todos temos, alguns no andar, outros no falar, outros não conseguem falar em público, outros ainda não conseguem andar de bicileta sem rodinhas até todos os outros garotos terem conseguido. Mas estes desafios fazem parte da vida.
A criança aprende pelo exemplo, e este é o exemplo que estamos passando como sociedade, “coloquem o diferente ali do lado, que não quero lidar com isso agora”.
Um livro muito lindo que recomendo a todos sobre o assunto : http://porqueheloisa.blogspot.com.br/